No telão: Jeremy Moorhous (IEA). Da direita para a esquerda (sentados): Dina Bacovsky (IEA Bioenergy); Marlon Arraes Jardim Leal (MME); Christian Rakos (WBA); Paul Bennett (Scion Research); Daniela Thrän (UFZ) e Mark Brown (UniSC). Crédito: divulgação
Especialistas reunidos na BBEST – IEA Bioenergy Conference ressaltaram o papel das políticas públicas para valorização e priorização do uso dos biocombustíveis na busca pela neutralidade das emissões nos transportes de longa distância.
São Paulo (SP), novembro de 2024 – Qual é o papel da bioenergia? E, se onde abiomassa é limitada, quais seriam as políticas públicas para priorizar o seu uso? Com essas perguntas, Dina Bacovsky, chair do Programa de Colaboração Tecnológica do IEA Bioenergy e líder do Bioenergy and Sustainable Technologies (BEST), da Áustria, abriu o primeiro painel de políticas públicas da BBEST – IEA Bioenergy Conference.
Tendo em vista que será necessário que biocombustíveis e a bioenergia contribuam com ao menos 20% do total da energia usada em 2050 para o mundo chegar à neutralidade de emissões prevista para 2050, Jeremy Moorhouse, analista de Bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA), alertou para as muitas vantagens da bioenergia. Segundo o analista, elas vão muito além da redução de emissões: a energia de base biológica é acessível, é uma fonte segura, é barata e compatível com as diferentes tecnologias que demandam energia. Melhor ainda: não pressiona o uso da terra voltada ao cultivo de plantações. “Há território suficiente para a adoção de políticas públicas voltadas ao crescimento da bioenergia”, garantiu.
Contudo, ressaltou Moorhouse, no que tange à transição energética, duas áreas são críticas e devem ser priorizadas para uso voltado à bioenergia, áreas estas que não contam ainda com outra solução: aviação (Sustainable Aviantion Fuels – SAF) e marítimo (biobunker). Para as demais, diz Moorhouse, há outras soluções e a elas cabem uma combinação de políticas, biocombustíveis líquidos, hidrogênio e eletricidade, conforme o melhor custo obtido em cada caso.
Brasil na liderança
A bioenergia no mundo, informa o analista da IEA, já representa 7% do consumo de energia. A América Latina lidera o consumo de bioenergia, com 30% proveniente de fontes biológicas. Já, o Brasil, diz ele, é uma verdadeira potência nesse quesito, chegando a perto de 40%. Moorehouse elogiou o programa Combustível do Futuro brasileiro e sua legislação que busca incentivar a captura de carbono. “Queremos ver isso se repetir em outras partes do mundo”, defendeu. Da mesma forma, citou a iniciativa brasileira à frente da presidência do G20, buscando a construção de um consenso para acelerar e implementar políticas de biocombustíveis.
Marlon Arraes Jardim Leal, diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), por sua vez, frisou que devemos levar em conta os 2 bilhões de motores que hoje demandam combustíveis líquidos. “Como vamos descarbonizar esse universo?”, questionou. A boa notícia, frisou, diz respeito aos investimentos de energia x bioenergia feitos pelo mundo. Se em 2018 o planeta investia US$ 1 trilhão tanto em energias convencionais como em bioenergias, em 2024, dos US$ 3 trilhões investidos em energias, US$ 2 trilhões são para as tecnologias de energias limpas e sua infraestrutura.
Nesse contexto, defende o diretor do MME, a contabilidade de carbono das várias fontes de energia se torna uma peça-chave para as políticas de descarbonização. A questão, lembrou, foi discutida em nível ministerial no G20. Nesse fórum, uma grande conquista será a declaração conjunta dos países presentes, a ser publicada em breve, indicando que essa contabilidade deve ser neutra em relação às tecnologias a serem adotadas. Deve, ainda, trazer uma abordagem inclusiva para implementar uma ampla variedade de combustíveis sustentáveis e suas tecnologias.
Bioenergia à base de madeira
Paul Bennett, da Scion Research da Nova Zelândia fez um rápido balanço das políticas energéticas daquele país. “Basicamente, em nosso país há um esforço para descontinuar o uso de carvão. No entanto, não há lá, como no Brasil, uma estratégia de energia para combustíveis líquidos ou para o biogás”, admitiu. “Precisamos aprender com o que o restante do mundo já está fazendo”, defendeu.
De acordo com Bennett, boa parte da biomassa neozelandesa está baseada em agroflorestas, que hoje ocupam 8% da terra do país. “A nossa bioenergia, basicamente, é à base de madeira”, relatou. Ele defendeu a adoção intensiva de serragem e resíduos de madeira dessa cadeia para serem revertidos em bioenergia. “É preciso mobilizar todo esse material que está sendo desperdiçado”, recomendou.
Uso mais efetivo
Daniela Thrän, da UFZ (Helmholtz-Centre for Environmental Research), da Alemanha, e líder da força tarefa 44 da IEA Bioenergy, levantou outro ponto: como as políticas públicas podem apoiar a implementação da energia sustentável, de forma a garantir que o seu uso seja mais efetivo. Segundo ela, já são mais de 60 os países que estão em busca de políticas em prol da bioeconomia. Essas estratégias normalmente combinam regulação, promoção e políticas de comunicação com graus de intensidade variados. “No entanto, conforme o país, há diferentes entendimentos sobre o que é a bioeconomia”, ressaltou.
Economia circular
Para a especialista, em todos os casos, as estratégias dos países indicam uma crescente demanda por biomassa para vários setores, entre os quais biocombustíveis, construção civil, indústria química, plásticos e outros. “Ou seja, temos que usar sabiamente a biomassa disponível. E aplicar os conceitos de bioeconomia circular, usando os materiais e produtos pelo maior tempo possível”, recomendou. Também sugeriu que o uso do lixo e de resíduos deva ser levado em conta para acelerar a bioeconomia, principalmente onde não é possível a adoção das energias limpas como a solar e a eólica.
Christian Rakos, presidente da Associação Mundial de Bioenergia (WBA), preferiu lançar um questionamento. “Seria o uso mais eficiente da biomassa em termos de mitigação de gases de efeito de estufa, ou para dar conta dos serviços essenciais para as pessoas?”, indagou. Para ele, há questões – como manter as casas aquecidas no inverno – que são fundamentais.
Rakos lembrou que boa parte da população mundial – 2 bilhões de pessoas – ainda queima biomassa para poder preparar seus alimentos. Esse montante corresponde a 40% da biomassa do mundo. “Esse não é um uso sustentável, pois traz sérios impactos à saúde das pessoas, devido à inalação de fumaça”, pontuou. No entanto, para essas pessoas não é possível o acesso econômico ao gás de cozinha. “As nossas políticas devem levar em conta essa realidade e direcionar incentivos – créditos de carbono e a criação de mercados de carbono – para o que realmente é essencial às pessoas.”
Risco de novas campanhas de desinformação
Rakos também citou o índice alarmante de desinformação, em um nível jamais visto antes, contra as políticas em prol da bioenergia na Europa. “Vimos uma campanha de US$ 1,2 bilhão direcionada à desinformação contra a bioenergia, contra os acordos feitos na União Europeia”, denunciou. “E os SAFs poderão facilmente ser arrastados para a lama também. Quem não quer ver os seus combustíveis fósseis prejudicados poderá colocar muito dinheiro nisso”, concluiu.
Important information:
- The student must be a member of SBE and present his(er) work at the event.
- The amount of resources allocated to support students is limited, and requests will be considered on a first-come, first-served basis.
- The student must register for the event and contact SBE (sbe.bioenergy@gmail.com), attaching a copy of his(er) work and proof of enrollment in an Undergrad or Graduate Program.
- Supported students will receive a voucher to be used in the event’s registration system.
- SBE support is exclusively for the registration until July 31, 2024 (early registration).
We look forward to seeing you soon and wish you success in your bioenergy endeavors.
Sincerely,
Rafael V. Ribeiro
President of SBE